sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Por que o cérebro se cansa quando fazemos muito exercício?

Um corredor de maratona aproxima-se à linha de chegada e, de repente, cai extenuado e desmaia apenas alguns metros de conseguir a vitória. Ainda que a cena possa resultar-nos familiar, o que provavelmente ignoramos é que não se deve a um desgaste dos músculos senão a um mecanismo do cérebro que coloca uma trava no excesso de atividade quando nos excedemos nosso limite. É o que se conhece como "fadiga central", um tipo de cansaço extremo que afeta o cérebro e o sistema nervoso.

Cientistas da Universidade de Copenhagen indagaram a respeito dos mecanismos que conduzem a este processo e chegaram à conclusão de que tem a ver com a serotonina. A serotonina é um neurotransmissor liberado quando fazemos exercício, gera bem-estar e nos ajuda a manter ativos, funcionando como se fosse um acelerador que contribui para que os músculos funcionem. No entanto, a partir de certas quantidades também pode atuar como um freio, tal e qual expõem o neurocientista Jean-François Perrier e seus colegas na última edição da revista PNAS.

O cérebro comunica-se com os músculos utilizando um tipo especial de neurônios, os motoneurônios, que fazem com que as fibras musculares se contraiam. Para ordenar os movimentos corporais, o cérebro deve ser capaz de controlar os impulsos dos motoneurônios para que se ativem na ordem correta e com a intensidade necessária. A excitabilidade dos motoneurônios incrementa-se ao elevar-se os níveis de serotonina, de tal modo que quando este neurotransmissor atinge tais níveis muito altos, sua ação deixa de ser local nas uniões entre neurônios e chega a lugares mais longínquos, como o segmento inicial do axônio dos neurônios, que conduz os impulsos nervosos, inibindo-os. O mecanismo de controle identificado agora impede que os motoneurônios se tornem hiperativos e reduz aquela atividade muscular que poderia resultar prejudicial.

A descoberta poderia ajudar a combater o doping, já que para consegui-lo é crucial identificar que métodos os atletas podem usar para prevenir a fadiga central e continuar rendendo para além do que é naturalmente possível. A descoberta ajudará também a entender por que as pessoas que tomam antidepressivos se cansam antes, já que estes fármacos elevam o nível da serotonina para melhorar o estado de humor.

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